domingo, 9 de março de 2008

O vento

Eu gosto do vento. Aprecio a maneira como toca meu rosto, como me faz sentir livre. Adoraria estar sempre em um conversível na rodovia ou em uma moto passeando pela orla da praia. Gosto como o vento me faz lembrar os momentos.

Alcançar a realidade que um dia foi como se ela jamais tivesse partido. Faz-me sentir saudade dos invernos quentes ou de um verão frio. Das roupas molhadas e dos dentes batendo depois da chuva imprevista.

Eu gosto do vento porque o consigo imaginar como um grande lençol de seda invisível que nos toca a cada momento, bem quando nós precisamos. Ou ainda quando precisam que nossos olhos se encham de areia.

Apesar de tudo eu gosto do vento. Ele parece levar e trazer nossa alma, como em um balanço eterno que a gente não pode ver, mas que pode nos derrubar. Basta subestimá-lo que num instante estará no chão ou num abismo sem fundo.

O vento passa por mim sempre. Seja como uma brisa ou tempestade. Cada vez que o sinto é como se renovasse minha vida, como se levasse embora todos os sentimentos ruins, como se me dissesse que eu ainda posso voar.

Por isso gosto de altura. É nos lugares mais altos que sentimos o vento mais puro, em sua temperatura original, com sua voracidade e violência doce. É a forma como podemos respirá-lo e senti-lo entrando em nossos pulmões, purificando-os.

Às vezes eu não gosto do vento. Ele me trás lembranças boas, mas essas doem em meu coração. São histórias inacabadas que talvez nunca tenha a chance de por um ponto final. E isso é pior do que se nunca tivesse acontecido.

Nessas horas eu caio. O vento me empurra e me arrasta pelo chão, fazendo feridas e abrindo mais ainda as que já estavam ali cicatrizando. Aí eu odeio o vento. Mas quando o odeio ele parece que muda de direção.

Como se me dissesse para abrir meu coração e deixar que limpe a sujeira que há nele. Então eu me acalmo, paro, penso e ouço. Como se Deus falasse comigo. Sinto, absorvo e faço. Depois disso, meu coração já está limpo.

Longe de toda impureza, de toda tristeza e de toda maldade. Limpo para que continue firme e amando sempre. Para que possa continuar dizendo eu te amo sem me preocupar em receber o mesmo.

Eu adoro o vento. É ele que me mostra os caminhos certos e renova meus sentimentos. Transforma a tristeza em alegria, o rancor em amor. É ele que se estende até minha amada, como extensão de meus braços e a toca, protege e avisa que ainda estou ali.

Eu amo quando venta. Porque sei que ele não apenas me toca, mas busca todos os que amo e os liga a mim. Por isso me fortaleço e levanto sempre. Pois mesmo não tendo o amor de ninguém, amo a todos como se todos amassem a mim.

Um comentário:

Unknown disse...

O vento... amo o vento... adorei o texto.
Parece um toque de DEUS... e vejo q vc mesmo falando q nem tem religião já está bem envolvido com ELE...rsss
Beijão